[14 de fevereiro]
Conheci ontem o que é celebridade. Estava comprando gazetas a um homem que as vende na calçada da Rua de S. José, esquina do Largo da Carioca, quando vi chegar uma mulher simples e dizer ao vendedor com voz descansada:
− Me dá uma folha que traz o retrato desse homem que briga lá fora.
− Quem?
− Me esqueceu o nome dele.
Leitor obtuso, se não percebeste que "esse homem que briga lá fora" é nada menos que o nosso Antônio Conselheiro, crê-me que és ainda mais obtuso do que pareces. A mulher provavelmente não sabe ler, ouviu falar da seita de Canudos, com muito pormenor misterioso, muita auréola, muita lenda, disseram-lhe que algum jornal dera o retrato do Messias do sertão, e foi comprá-lo, ignorando que nas ruas só se vendem as folhas do dia. Não sabe o nome do Messias; é "esse homem que briga lá fora". A celebridade, caro e tapado leitor, é isto mesmo. O nome de Antônio Conselheiro acabará por entrar na memória desta mulher anônima, e não sairá mais. Ela levava uma pequena, naturalmente filha; um dia contará a história à filha, depois à neta, à porta da estalagem, ou no quarto em que residirem.
(Machado de Assis, Crônica publicada em A semana, 1897. In Obra completa, vol.III, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p. 763)
Se o cronista tivesse preferido contar com suas próprias palavras o que a mulher disse ao vendedor, a formulação que, em continuidade à frase ... quando vi chegar uma mulher simples e pedir ao vendedor com voz descansada, atenderia corretamente ao padrão culto escrito é:
a) que desse uma folha que traria o retrato desse homem que briga lá fora.
b) que lhe desse uma folha que trazia o retrato daquele homem que brigava lá fora.
c) que lhe dê uma folha que traz o retrato desse homem que briga lá fora.
d) que me dê uma folha que traz o retrato desse homem que brigaria lá fora.
e) que: Dê-me uma folha que traz o retrato daquele homem que brigaria lá fora.