A educação é uma função tão natural e
universal da comunidade humana que, pela própria evidência, leva muito
tempo a atingir a plena consciência daqueles que a recebem e praticam,
sendo, por isso, relativamente tardio o seu primeiro vestígio na
tradição literária. O seu conteúdo, aproximadamente o mesmo em todos os
povos, é ao mesmo tempo moral e prático. Também entre os Gregos foi
assim. Reveste, em parte, a forma de mandamentos, como honrar os deuses,
honrar pai e mãe, respeitar os estrangeiros; consiste, por outro lado,
numa série de preceitos sobre a moralidade externa e em regras de
prudência para a vida, transmitidas oralmente pelos séculos afora; e
apresenta-se ainda como comunicação de conhecimentos e aptidões
profissionais a cujo conjunto, na medida em que é transmissível, os
Gregos deram o nome de techné. Os preceitos elementares do procedimento
correto para com os deuses, os pais e os estranhos foram mais tarde
incorporados à lei escrita dos Estados. E o rico tesouro da sabedoria
popular, mesclado de regras primitivas de conduta e preceitos de
prudência enraizados em superstições populares, chegava pela primeira
vez à luz do dia, através de uma antiqüíssima tradição oral, na poesia
rural gnômica de Hesíodo. As regras das artes e ofícios resistiam
naturalmente, em virtude da sua própria natureza, à exposição escrita
dos seus segredos, como esclarece, no que se refere à profissão médica, a coleção dos escritos hipocráticos.Da
educação, neste sentido, distingue-se a formação do Homem por meio da
criação de um tipo ideal intimamente coerente e claramente definido.
Essa formação não é possível sem se oferecer ao espírito uma imagem do
homem tal como ele deve ser. A utilidade lhe é indiferente ou, pelo
menos, não essencial. O que é fundamental nela é o kalón, isto é, a
beleza, no sentido normativo da imagem desejada, do ideal. A formação
manifesta-se na forma integral do Homem, na sua conduta e comportamento
exterior e na sua atitude interior. Nem uma nem outra nasceram do acaso,
mas são antes produtos de uma disciplina consciente. Já Platão a
comparou ao adestramento de cães de raça. A princípio, esse adestramento
limitava-se a uma reduzida classe social, a nobreza. Obs: gnômico = sentencioso(Adaptado de Werner Jaeger, Paidéia: a formação do homemgrego. Trad. Artur M. Parreira, 4.ed., São Paulo: Martins Fontes,2001, p. 23-24)A utilidade lhe é indiferente ou, pelo menos, não essencial.É correto afirmar que, na frase acima,
a) o pronome pessoal oblíquo refere-se a "homem".
b) o lhe foi empregado com o mesmo valor que tem na frase "Ouviram-lhe o choro convulsivo".
c) a conjunção ou tem valor enfático (como em "ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil"), porque introduz uma ratificação integral do que foi afirmado antes.
d) a expressão pelo menos assinala que o elemento referido corresponde, numa hierarquia, àquele que pode ser desconsiderado.
e) a expressão não essencial é sinônima de "não é indispensável".