Senhores:
Investindo-me no cargo de presidente, quisestes começar a Academia Brasileira de Letras pela consagração da idade. Se não sou o mais velho dos nossos colegas, estou entre os mais velhos. É simbólico da parte de uma instituição que conta viver, confiar da idade funções que mais de um espírito eminente exerceria melhor. Agora que vos agradeço a escolha, digo-vos que buscarei na medida do possível corresponder à vossa confiança.
Não é preciso definir esta instituição. Iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova e naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância. A Academia Francesa, pela qual esta se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda a casta, às escolas literárias e às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e progresso. Já o batismo de suas cadeiras com os nomes preclaros e saudosos da ficção, da lírica, da crítica e da eloqüência nacionais é indício de que a tradição é o seu primeiro voto. Cabe-vos fazer com que ele perdure. Passai a vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira. Está aberta a sessão.
(ASSIS, Machado. Discurso inaugural, na Academia Brasileira, aos 20 dias do mês de julho de 1897. Obra completa, vol.III, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p.926)
No discurso, Machado de Assis
a) interpreta, assumindo atitude despretensiosa, que a escolha de seus pares não foi determinada pela consideração de dotes intelectuais.
b) modestamente atribui a investidura no cargo de presidente a um gesto de reconhecimento por sua ação de ter sugerido, no Brasil, a formação de uma Academia de Letras.
c) afirma taxativamente que Não é preciso definir esta instituição, por isso, sem oferecer traço caracterizador da Academia, se restringe a tratar das responsabilidades dos colegas.
d) entende como simbólica sua escolha como presidente da Academia Brasileira de Letras, visto considerá-la, indiretamente, distinção por seu estatuto de escritor consagrado.
e) sustenta, lucidamente, que o bom desempenho de determinadas funções intelectuais é inerente à experiência acumulada na idade madura.